Matéria para o Jornal do Brasil, por Cláudia Miranda, em 09/09/2001.

Ossos e articulações em ordem

O GYROTONIC®, criado por bailarino romeno radicado nos EUA, cura lesões corporais, alonga e melhora a postura.

Ginasta, nadador, bailarino, yogue e acupunturista, o romeno Juliu Horvath não aparenta ser quase um sexagenário – ele completa 60 anos em dezembro. Quem vê Horvath exercitando-se calmamente sobre o tatame percebe que sua agilidade, flexibilidade e vigor são equivalentes as de quem tem 20 anos. E é mais ou menos essa a idade que Horvath sente que tem. “Estou sempre bem disposto para a vida, não me sinto velho”, diz o romeno radicado em Nova York desde 1970.

Juliu Horvath, criador do GYROTONIC® – Workshop no Rio de Janeiro em 2001

Essa disposição é sua maior aliada profissional. Horvath ganhou fama mundial por ser o inventor do GYROTONIC® (conhecido no Brasil como Sistema Girotônico de Expansão), método de exercícios criado por ele há mais de 20 anos para curar lesões corporais, melhorar a postura, tonificar e alongar a musculatura. Nos EUA, o GYROTONIC® é uma febre – há mais de 300 estúdios no país ensinando o sistema. Na Europa, o método também é popular, sobretudo na Alemanha, França e Suíça.

Além dos exercícios realizados no chão, os praticantes do GYROTONIC® trabalham músculos e articulações numa engenhoca inventada por Horvath que funciona através de um sistema de roldanas e, para não iniciados, lembra uma cadeira de tortura da época medieval. Na semana passada, Horvath esteve no Rio para dar um workshop sobre o método. Elogiou a paisagem, esbanjou jovialidade, falou muito sobre autoconhecimento, a importância da consciência corporal e do equilíbrio energético. Mas explicou muito pouco sobre o GYROTONIC®, que no Brasil é praticado no Rio e em São Paulo.

“Não adianta ficar esmiuçando o que é o meu método, vocês tem de senti-lo e buscar os seus próprios caminhos”, repetia para os alunos que insistiam em saber o que o inspirou a criar a técnica. “Respiramos de forma diferente quando choramos, fazemos sexo ou sentimos raiva. Meu trabalho é fruto da observação desses momentos. Vocês têm de fazer o mesmo e trazer as emoções através da respiração para atingir a catarse.”

Resultados

Na prática, Horvath misturou elementos da ioga, do tai chi chuan, da natação e do ballet clássico – todas técnicas que ele aprendeu ao longo da vida – para criar seu método. E funcionou.

A bailarina Rita Renha, discípula do romeno e única brasileira Master Trainer do sistema no Brasil, se curou em 1991 de uma grave lesão no joelho no centro que Horvath dirige em Nova York. Na época, Rita chegou a pensar que não voltaria aos palcos. Não só está na ativa até hoje, como passou a fazer parte da equipe do bailarino, empenhada em disseminar a técnica pelo mundo. Ela ajudou a formar professores americanos e europeus e agora se prepara para diplomar a primeira turma de brasileiros. O papel da brasileira não ficou restrito à divulgação da técnica. Ela dedicou os últimos dez anos a ajudar Horvath a simplificar o sistema, que havia sido criado inicialmente para auxiliar profissionais do balé, ginástica olímpica e outros esportes a curar e prevenir lesões. “Hoje o método pode ser aplicado em pessoas de todas as idades, dos 8 aos 80 anos”, conta a bailarina.

Isolamento

Filho de um alfaiate, Horvath cresceu na Romênia e, desde criança, mostrou disposição e talento para os esportes. Começou a nadar e competir aos 13 anos. Mais tarde, experimentou a ginástica olímpica. Aos 19, encantou-se pelo ballet clássico e em apenas um ano tornou-se o primeiro-bailarino do Romanian State Opera. Foi durante uma turnê pela Itália em 1970 que ele resolveu desertar e terminou, seis meses depois, pedindo asilo político nos Estados Unidos. “Escolhi ir para a terra das oportunidades”, conta.

Para ele a frase clichê deu mais do que certo – apesar de no começa ter chegado a pintar paredes para sobreviver. Mas logo foi convidado a participar do New York City Opera e do Houston Ballet. Foi numa dessas apresentações, em 1977, que ele rompeu o tendão de Aquiles. Como já sofria com duas hérnias de disco, decidiu parar de dançar. Na época, pensou que seria o fim da sua carreira e resolveu se isolar nas Ilhas Virgens.

Passava o dia praticando ioga e observando a natureza. “Aprendi tudo o que dizia respeito à minha natureza. Queria entender o que acontecia com o meu corpo, desvendar as minhas dores. Se você fica horas observando o seu dedo mindinho, com o tempo, não precisa nem mais pensar nele porque ele passa a fazer parte da sua consciência. Fiz isso com todas as partes do meu corpo.” O aparelho e os exercícios que fazem parte do GYROTONIC® surgiram nessa época, fruto de várias tentativas de Horvath de se livrar da própria dor. No início, a máquina não passava de uma corda presa com um prego na parede, usada para facilitar os exercícios de alongamento. A ideia das roldanas e das cordas, que impulsionam os movimentos giratórios e de alongamento de todos os membros do corpo, foi tomando forma com o tempo.

Sucesso

O toque final foi dado quando Horvath conheceu uma mulher que havia perdido uma clavícula e uma costela e precisava recuperar os movimentos dos braços. “Fiquei pensando nela e na forma como poderia fortalecer a sua musculatura, já que não tinha ossos para sustentar os braços. Aperfeiçoei o aparelho e consegui fazer com que se recuperasse.” Em 1980, o romeno voltou à Nova York curado e com todo o método desenvolvido. O GYROTONIC®, que conquistou bailarinos lesionados desde o início, foi sendo adotado aos poucos por centros de fisioterapia e academias de ginástica. Graças a ele, o romeno pode dizer hoje que, de fato, “conquistou a América”.

Músculos e tendões fortes

O método GYROTONIC® é dividido em duas partes: GYROKINESIS®, uma espécie de ioga mais movimentada, e o aparelho de exercícios propriamente dito. Ambos exigem coordenação entre movimentos corporais e respiração para chegar ao resultado esperado. Ao longo da aula, os alunos praticam vários tipos de respiração, alternando entre suspiros profundos, rápidos e lentos. O objetivo, segundo Juliu Horvath, é “criar um fluxo energético que atinja a musculatura, as juntas e os órgãos internos do corpo”.

Em todas as aulas de GYROKINESIS® a movimentação começa pela coluna, o que provoca um aumento da circulação sanguínea e o fortalecimento da musculatura na região, aliviando as dores lombares. O aparelho ajuda a agilizar e a aprimorar esse processo. Sua estrutura, toda em madeira e metal, é formada por roldanas e fios, que sustentam pesos e devem ficar presos às pernas ou aos braços dos alunos. Sua maior qualidade é ajudar a fortalecer músculos e tendões através de movimentos circulares que mexem com as articulações, difíceis de serem executados em aparelhos comuns de musculação.

Prevenção e Cura

A atriz e bailarina Rita Renha é a única brasileira credenciada para ensinar o sistema GYROTONIC® no país.

A máquina trabalha tanto a contração como o alongamento muscular. Esses movimentos aumentam o espaço entre as vértebras, ajudando a prevenir e tratar hérnias de disco.

“A articulação entre as juntas também melhora. No final de cada sessão, a sensação é como se elas tivessem sido lubrificadas. Além disso, o uso do aparelho melhora a postura porque a pessoa aprende a manter os ombros eretos e abertos”, afirma Rita renha, Master Trainer do sistema e representante de Horvath no Brasil.

Link: http://gyrotonicbrasilblog.com/reportagens/Juliu-Horvath-Rita-Renha-Jornal-do-Brasil-2001.pdf